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Sobre começar algumas vezes mais

2 min readJul 16, 2016

Mais uma vez eu me encontro num papel em branco, ou numa tela vazia.

Desde muito cedo eu escrevi. Não lembro ao certo quando foi a primeira vez. Mas em meio às angústias que hoje não fazem mais sentido e às inquietações adolescentes, o texto foi meu refúgio sem que eu tivesse qualquer instrução para fazê-lo ou compreende-lo. Mas talvez nesse não saber é que ele se encontrasse puro. Tal foi que ainda hoje olho pra cada escrito como um irmão a mais além dos oito que tenho. Abandonei alguns pelo caminho, assim como alguns blogs perdidos e fotologs excluídos. Assim como o flogão da época emocore que só sumiu seis anos depois do meu primeiro e-mail clamando pela exclusão após eu ter perdido a senha. São muitas as histórias que se passaram enquanto a cada uma delas surgia uma nova linha. Escrevi meu próprio livro sem ter capa nem título.

Fato é que escrever não me cansa. É o mesmo orgasmo no desenrolar de batidas no teclado, mesmo que no intermédio eu possa esquecer desse prazer. E é a cada esquecer que o vazio me cansa e eu recomeço. Além da vergonha-alheia-de-mim-mesmo quando releio um escrito antigo e me pergunto quem já o leu e quem ainda poderia vir a descobrir essa minha faceta. Então abandono como se não fosse meu. Não excluo; sou apegado. Mas a cada abandono, um novo filho fruto do mesmo vazio do intermédio. Sem filho-irmão não posso ficar. O livro nunca é fechado. E livre das antigas vergonhas-alheias-de-mim-mesmo recomeço meu escrito numa nova faceta, ou plataforma.

Sei que no pai google meus tesouros são descobertos com uma simples busca. Vão descobrir o nome que eu usava? Isso eu não sei. Sei sim também que cada vez que recomeço depois do vazio do intermédio é a mesma descoberta do orgasmo adolescente da época emocore. Como é bom escrever! Melhor que conversar, eu diria. Se bem que sou do diálogo, como gosto de dizer. Mas qual o melhor diálogo que não aquele com nós mesmos, no mais interior do nosso ser e da quietude do nosso quarto? Passo horas nesse bate papo.

Aqui encontro agora um novo livro. Enfim aceitei mais um vazio do intermédio e estou livre para recomeçar. Mas dessa vez sem vergonha-alheia-de-mim-mesmo. Acredito que a bagagem dos 22 é mais de orgulho, mesmo que a alma ainda seja emocore. A partir de uma certa idade — falando como o imaginativo adulto que o eu-criança vislumbrava — deixamos de abandonar para somar. Talvez porque não tenha para onde fugir e recomeçar do zero, mas de onde partir com o acumulado das intenções, feitos e ilusões que nos trouxeram até aqui: essa página em branco.

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