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Liguei um celular antigo e foi o que encontrei…

4 min readNov 26, 2024

Peguei um celular esquecido em uma caixa e liguei. Primeiro, deixei a tarde carregando em um cabo improvisado de outro aparelho com o adaptador encontrado no fundo da mesma caixa onde precisei voltar pra buscar quando me dei conta que o aparelho é tão antigo que a entrada já não se fazem mais.

Não é tão antigo assim. 4 anos atrás. Mas nos dias de hoje… como nossa percepção de tempo pode mudar tanto assim? Na verdade, cada vez mais percebo como minha memória de curto prazo está péssima e penso seriamente em buscar ajuda profissional. Penso só até esquecer que pensei nisso.

Peguei o celular e liguei no começo-meio da noite depois de uma soneca e naquele momento em que pensamos na vida antes de dormir — maldita hora. Comecei apagando aplicativos que não tinham importância alguma. Organização em primeiro lugar mas também uma agonia em fazer o que eu mais queria: abrir a galeria. Um frio na barriga muito verdadeiro. Uma pontada. Pode ser a ansiedade recém-diagnosticada, mas revirar o passado mexe comigo.

Pra minha surpresa, a galeria não estava tão cheia assim. Nítido que fiz uma limpeza ali quando migrei pra um aparelho que nem tenho mais, trocado depois por outro, e outro, e outro… eu detesto trocar aparelhos e o sentimento de que deixo no anterior parte da minha vida. "E as minhas fotos?" — o tempo passa e eu cada vez mais pratico o desapego. Fodam-se as fotos! Eu conto apenas com a minha memória. Que não anda muito bem.

Fotos de passeios que (esses sim) lembro com muito carinho. Amigas que parecem estar comigo desde antes da invenção dos smartphones. Casas onde morei (isso também sempre me pega). Um amigo que já faleceu e que no mundo falso das redes descobri mais de um ano depois.

Mais do que os cenários das fotos, ou as memórias dos fatos em si; são os detalhes que me chamam atenção. A forma das folhas naquela floresta que fui com minha amiga Stéphanie, a feição do Mateus de olhos fechados naquela foto tirada de baixo pra cima no aniversário de um amigo querido. Eu me lembro desse dia! Mas não me lembrava necessariamente dessa angulação, ou do Patrick que aparecia ao fundo daquela outra foto do mesmo dia. Fotos repetidas de um mesmo prato que tirei tantas vezes até acertar uma — suponho — para ir para o Instagram.

A vida é louca e as fotos me lembram sempre como ela é grande. Sejam as digitais ou analógicas. Depois que comprei uma instantânea, tenho uma caixinha que já lotou de polaroids. Primeiro, penso o quanto gastei com filme. Depois, penso também na liberdade que é não depender de Google Fotos e aparelhos antigos. É só abrir a caixinha e as memórias estão ali. Inclusive, lembro agora enquanto escrevo, que alguns desses momentos perdidos na galeria do A10 que não ligava em 3 anos estão também entre essas mini fotos na caixinha no rack da sala — novo, já que estou em uma casa nova, vida nova… Tanta coisa mudou desde que liguei esse celular pela última vez.

Eu tenho uma nostalgia em mim que me retorna apenas quando lembro que talvez eu não seja tão desapegado assim. Eu trocava de aparelho sem fazer backup. Não farei jamais! Como o tweet engraçado da Rita Lee, foda-se eu! Mas quando volto nesses aparelhos esquecidos e vejo que não perdi tudo, o enjoo que me causa é como uma viagem no tempo dos filmes de ficção científica.

É sério, eu senti um enjoo quando estava prestes a abrir a galeria.

O que eu percebo é que o tempo passa e eu não quero revirar fotos antigas. Quero caminhar, sair das telas (irônico, não, @Medium?), ver meus amigos e contar com a minha memória. Se eu esqueci daquele dia, comente algo que me faça lembrar! Não quero depender desse celular acoplado como uma bolsa de colostomia. Não quero colecionar aparelhos antigos — não tem o mesmo charme de abrir uma caixa de fotos como fazia na casa de minha mãe. Acho que até ela perdeu essas fotos também, ou esqueceu em uma caixa esquecida. É pra ser redundante mesmo.

Eu comecei esse texto sem saber o que queria dizer, apenas deixar claro ao mundo que senti um enjoo ao abrir a galeria de um celular antigo. O que isso quer dizer? Vocês podem explicar e também o meu psicólogo se eu lembrar de comentar sobre isso na minha consulta de quinta — como sabem, minha memória não anda muito bem.

A nostalgia me pega tanto que para abrir essa plataforma eu coloquei pra tocar uma música que me transporta para os momentos em que, calculo eu, eu usava um A10. They all want you, da Lissie.

Escrever aliviou o enjoo e fico apenas com a boa lembrança dos detalhes. Talvez eu abra esse aparelho algumas vezes mais até a bateria acabar de novo ou eu esquecer. Espero me lembrar também de voltar nas polaroid para ver se todos aqueles momentos estão representados em pelo menos 1 pose (com a instantânea a gente fica na escassez — e que gostoso!).

E assim a gente segue. Guarda o celular, esquece dos detalhes, de alguns dias que lá atrás foram tão bons… já esqueci de algumas pessoas também, mas é raro. Nisso minha mente ajuda. A vida segue, esse é o ponto. Voltar a 2020 é impossível ou reviver os bons dias que me motivaram a pegar o celular para registrar. Mas eles passam! A gente precisa ficar em paz com o non-stop da vida, ainda que a gente lembre e esses dias pareçam cada vez mais distantes.

Será que me arrependo de algum rumo desde lá? Será que as coisas poderiam ter sido diferentes? Essas são perguntas que não valem nem um pouco serem perguntadas. Por isso não gosto de abrir galerias antigas. O que fica é o que importa. O resto, são detalhes.

[ps: não consegui ilustrar esse post com nenhuma imagem porque o sistema operacional não me permitiu usar o bluetooth nem instalar algum aplicativo que me ajudasse com isso. depois eu volto lá e aqui também]

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